domingo, 30 de outubro de 2011

Variados

Socopé

Os verdes longos da minha ilha
são agora a sombra do ocá,
névoa da vida,
nos dorsos dobrados sob a carga
 (copra, café ou cacau — tanto faz).
Ouço os passos no ritmo
calculado do socopé,
os pés-raízes-da-terra
enquanto a voz do coro
insiste na sua queixa
 (queixa ou protesto — tanto faz).
Monótona se arrasta
até explodir
na alta ânsia de liberdade.

Manuela Margarido (poetisa são-tomense) 


Nascimento

Aceso está o fogo
prontas as mãos
o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.
As mãos criam na água
uma pele nova
panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar
Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças deleite
que o vento trabalha manteiga
a lua pousada na pedra de afiar
Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas
As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras
Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.
Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio
enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite.

Ana Paula Ribeiro Tavares (poetisa angolana)



A Pequena Angústia

Mais perto de mim são as estrelas
neste jardim,
do que os homens sentados a meu lado.
As estrelas brilham.
Os homens falam
lá entre eles.
Não escutam o silêncio
os homens que falam
neste jardim.
As estrelas falam
perto de mim.

Ruy Cinatti (poeta timorense)


Por: Raphael L.D Junior – alien_ninja@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário